terça-feira, 1 de março de 2016

«As Sapatilhas Mágicas»


Num dia, à tarde, uma menina foi comprar umas sapatilhas. Quando ela entrou na loja, olhou para a sua esquerda e ficou impressionada com aquelas sapatilhas. Eram umas sapatilhas muito coloridas. Tinham azul, roxo, laranja, amarelo e um pouco de preto.
- Mamã, Mamã! Quero estas sapatilhas! Podes comprar-mas, Mamã? – perguntou a menina, que se chamava Susana.
- Sim, filha, podemos comprar essas sapatilhas – disse a mãe.
Quando a Susana e a mãe chegaram ao balcão, pediram para ver as sapatilhas:
- Olá, muito boa tarde! Quanto custam estas sapatilhas?


A Senhora respondeu:
- Essas sapatilhas são mágicas. O preço normal de sapatilhas como estas é de 70€, mesmo não sendo mágicas.
A mãe decidiu comprar as sapatilhas e a Susana ficou muito feliz. Até saltou de alegria.
A Susana ficou a pensar, muito intrigada, por que razão aquelas sapatilhas seriam mágicas. Pensou. Pensou. Pensou. Até que chegou o dia de as estrear.
Ela calçou as sapatilhas e num abrir e fechar de olhos, percebeu que estava num mundo diferente. A Susana tinha acabado de entrar no “Mundo da Fantasia.”


Nesse mundo havia animais muito estranhos. Tinham as vozes todas trocadas. A vaca relinchava como o cavalo. O cavalo mugia como a vaca. Os peixes “glugluchavam”* tão alto, que quase pareciam papagaios. Os papagaios gritavam como os elefantes. Os cães rugiam como os leões. As galinhas miavam como os gatos. Os gatos grugulejavam como os perus. Os patos roncavam como os porcos. Estava mesmo tudo às avessas. Às vezes, ouvia-se ao longe uma grande algazarra, muito barulhenta, quando todos os animais desatavam a falar ao mesmo tempo.


Os objetos tinham todos vida. Eram eles as personagens deste mundo de fantasia. Havia muitos gelados, que derretiam e pingavam por todo o lado. Os armários estavam sempre a dançar, ao som do seu amigo rádio, que tocava sem parar. A estante acompanhava os armários nas suas danças, divertia-se tanto, que nem dava conta como os parafusos que a seguravam iam saltando. Nada se aguentava quieto na estante, nem os cestos, nem as bugigangas que eles guardavam dentro de si.
A Susana viu-se transformada num gelado e, cheia de curiosidade, foi passear por aquele mundo para o conhecer melhor – era completamente irresistível: nunca tinha conseguido imaginar todas aquelas coisas fantásticas. Cruzou-se com muitos outros gelados que a avisaram para ela ter cuidado, porque os gelados derretem facilmente, mas ela estava tão feliz que continuou o seu caminho sem ligar muito aos avisos dos seus amigos.



A certa altura, depois de uma boa caminhada, encontrou-se sozinha, sem a companhia dos outros gelados, numa clareira muito quente e começou a pingar, a derreter. Lembrou-se do aviso dos gelados seus amigos, mas já não conseguia voltar para trás e encontrar o caminho de volta. À medida que ia derretendo, ficava cada vez mais assustada. E agora, o deveria fazer?
Num repente, a Susana lembrou-se que tudo tinha começado quando calçou as sapatilhas e logo as descalçou. Voltou a sentar-se na sua cama, pensativa.
Será que a Susana aprendeu alguma coisa com as “sapatilhas mágicas”?
Ela aprendeu que é muito importante ouvir os outros. Aprendeu também que se andar sozinha se pode perder e ficar sem conseguir encontrar o caminho de volta. Mas aprendeu ainda que o “Mundo da Fantasia”, por mais fascinante que seja e por mais curiosidade que desperte, pode ter também um lado muito assustador e menos agradável.


*“glugluchavam” (“glugluchar”) – palavra ou verbo inventado

Também pode ver aqui a história em forma de livro eletrónico:



Texto Coletivo da turma do 4.ºD – Escola EB “O Leão de Arroios”
(Agrupamento de Escolas Luís de Camões, Lisboa)


Nota: História e ilustrações enviadas para o Concurso “Correntes de Escrita – 2016” (CMPV).
Janeiro 2016

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