Num dia, à tarde, uma menina foi
comprar umas sapatilhas. Quando ela entrou na loja, olhou para a sua esquerda e
ficou impressionada com aquelas sapatilhas. Eram umas sapatilhas muito
coloridas. Tinham azul, roxo, laranja, amarelo e um pouco de preto.
- Mamã, Mamã! Quero estas sapatilhas!
Podes comprar-mas, Mamã? – perguntou a menina, que se chamava Susana.
- Sim, filha, podemos comprar essas
sapatilhas – disse a mãe.
Quando a Susana e a mãe chegaram ao
balcão, pediram para ver as sapatilhas:
- Olá, muito boa tarde! Quanto custam
estas sapatilhas?
A Senhora respondeu:
- Essas sapatilhas são mágicas. O preço
normal de sapatilhas como estas é de 70€, mesmo não sendo mágicas.
A mãe decidiu comprar as sapatilhas e a
Susana ficou muito feliz. Até saltou de alegria.
A Susana ficou a pensar, muito
intrigada, por que razão aquelas sapatilhas seriam mágicas. Pensou. Pensou.
Pensou. Até que chegou o dia de as estrear.
Ela calçou as sapatilhas e num abrir e
fechar de olhos, percebeu que estava num mundo diferente. A Susana tinha
acabado de entrar no “Mundo da Fantasia.”
Nesse mundo havia animais muito
estranhos. Tinham as vozes todas trocadas. A vaca relinchava como o cavalo. O
cavalo mugia como a vaca. Os peixes “glugluchavam”* tão alto, que quase
pareciam papagaios. Os papagaios gritavam como os elefantes. Os cães rugiam
como os leões. As galinhas miavam como os gatos. Os gatos grugulejavam como os
perus. Os patos roncavam como os porcos. Estava mesmo tudo às avessas. Às vezes,
ouvia-se ao longe uma grande algazarra, muito barulhenta, quando todos os
animais desatavam a falar ao mesmo tempo.

Os objetos tinham todos vida. Eram eles
as personagens deste mundo de fantasia. Havia muitos gelados, que derretiam e
pingavam por todo o lado. Os armários estavam sempre a dançar, ao som do seu
amigo rádio, que tocava sem parar. A estante acompanhava os armários nas suas
danças, divertia-se tanto, que nem dava conta como os parafusos que a seguravam
iam saltando. Nada se aguentava quieto na estante, nem os cestos, nem as
bugigangas que eles guardavam dentro de si.
A Susana viu-se transformada num gelado
e, cheia de curiosidade, foi passear por aquele mundo para o conhecer melhor –
era completamente irresistível: nunca tinha conseguido imaginar todas aquelas
coisas fantásticas. Cruzou-se com muitos outros gelados que a avisaram para ela
ter cuidado, porque os gelados derretem facilmente, mas ela estava tão feliz
que continuou o seu caminho sem ligar muito aos avisos dos seus amigos.
A certa altura, depois de uma boa
caminhada, encontrou-se sozinha, sem a companhia dos outros gelados, numa
clareira muito quente e começou a pingar, a derreter. Lembrou-se do aviso dos
gelados seus amigos, mas já não conseguia voltar para trás e encontrar o
caminho de volta. À medida que ia derretendo, ficava cada vez mais assustada. E
agora, o deveria fazer?
Num repente, a Susana lembrou-se que
tudo tinha começado quando calçou as sapatilhas e logo as descalçou. Voltou a
sentar-se na sua cama, pensativa.
Será que a Susana aprendeu alguma coisa
com as “sapatilhas mágicas”?
Ela aprendeu que é muito importante
ouvir os outros. Aprendeu também que se andar sozinha se pode perder e ficar
sem conseguir encontrar o caminho de volta. Mas aprendeu ainda que o “Mundo da
Fantasia”, por mais fascinante que seja e por mais curiosidade que desperte,
pode ter também um lado muito assustador e menos agradável.
*“glugluchavam”
(“glugluchar”) – palavra ou verbo inventado
Também pode ver aqui a história em forma de livro eletrónico:
Texto
Coletivo da turma do 4.ºD – Escola EB “O Leão de Arroios”
(Agrupamento
de Escolas Luís de Camões, Lisboa)
Nota:
História e ilustrações enviadas para o Concurso “Correntes de Escrita – 2016”
(CMPV).
Janeiro
2016